EDITORIAL

Epicentros pós-industriais

Um futuro a Oriente

Por Paula Melâneo e Inês Moreira

Setembro 2018

As cidades portuguesas estão hoje num processo de transformação de ritmo acelerado. Os novos cenários de recuperação da crise económica e financeira têm tradução na arquitectura, no imobiliário e no urbanismo, em grande parte movidos pelo turismo. O J—A #255, que dedicámos aos Centros Nevrálgicos das principais cidades portuguesas, focou as recentes transformações do edificado, das actividades económicas e financeiras e, também, das alterações da vida quotidiana e do ambiente social. Agora, um ano volvido, sentimos a crescente importância dos fenómenos que ocorrem nos limites dos centros históricos, a Oriente, pelo que lhes dedicamos este número.

Nesta edição, o J—A #257 olha para estas zonas de passado industrial, onde a actividade se tornou obsoleta, analisando como estão agora a absorver o crescimento da urbanidade e as novas actividades económicas, não estritamente turísticas. Com a crescente pressão turística e imobiliária sobre os centros, as zonas orientais das cidades de Lisboa e do Porto, mantidas letárgicas até recentemente, são os actuais desafios municipais e as novas oportunidades de investimento, que hoje se vão regenerando com novos planos e projectos de distintas escalas, tanto públicos como privados.

Convidámos para este debate outras duas cidades portuguesas – Covilhã e Guimarães – cujos processos de desindustrialização deixaram edifícios, bairros e zonas industriais devolutas (não necessariamente a Oriente) e que souberam reconverter o seu edificado com reconhecido sucesso, bem como uma terceira cidade – Caldas da Rainha – que começa a pensar o seu futuro. Na Covilhã, a presença da Universidade da Beira Interior instigou a conversão de indústrias de lanifícios ao longo das suas ribeiras em novos edifícios para o ensino e investigação, trazendo novas actividades e vivências, enquanto celebra o passado no Museu dos Lanifícios. Mais recentemente, Guimarães, após a requalificação do centro histórico, com a Capital da Cultura em 2012, teve oportunidade de criar novos espaços culturais em indústrias reconvertidas, públicos e privados, aos quais se juntou um pólo da Universidade do Minho. Numa perspectiva mais próxima da indústria, as Caldas da Rainha iniciaram recentemente um projecto para requalificar a sua indústria da cerâmica, através de iniciativas culturais e de investigação e, também, repensando algum do seu edificado.

Oferecendo uma ampla perspectiva de projectos recentes em espaços pós-industriais nas zonas orientais de Lisboa e Porto, tanto dos planos como dos processos já em curso, elaborámos dois mapeamentos com uma selecção de projectos arquitectónicos e urbanísticos relevantes neste ano de 2018. Para contextualizar, publicam-se dois dossiers fotográficos que ampliam a leitura de terreno da realidade dos territórios orientais, um centrado em Xabregas e sua envolvente, outro focando a zona de Campanhã. De modo particular, no Porto, observam-se alguns dos projectos experimentais que decorrem actualmente nas ilhas, de reabilitação e requalificação destes antigos núcleos de habitação operária, procurando novas soluções para habitação a custos controlados. Em Lisboa, analisa-se o crescimento da cidade a Oriente, aspectos de diferentes direcções da sua regulamentação e o crescente processo de gentrificação, auscultando vários actores implicados na transformação da cidade.Por fim, lança-se um olhar crítico sobre os vinte anos decorridos da Expo’98 e da Parque Expo.

Nesta edição contávamos com uma reflexão de Luís Vassalo Rosa sobre a actualidade do território do Parque das Nações, uma revisão que considerámos fundamental, a de ouvir o urbanista que pensou e desenhou este novo pedaço de cidade. Lamentamos a perda deste urbanista singular no passado mês de Junho. Em sua substituição, demos espaço a um tributo à sua obra redigido pelo Colégio dos Arquitectos Urbanistas.