OPINIÃO

J—A em curso, o triénio 2015-17 [+ 2018-19]

Por Inês Moreira e Paula Melâneo

Arquitecta, Curadora, Investigadora Pós-Doutoramento (IHA/UNL)
Arquitecta e editora

 

Edições impressas
Edições impressas

 

 

O J—A é uma publicação com um historial complexo, como descreve Vítor Alves no seu artigo relativo ao período 1981-2015 [ver páginas 44-49]. Nos anos mais recentes, desde o Outono de 2015 e através de concurso, a edição tem estado sob nossa coordenação. Podemos afirmar que foram dos mais atribulados da sua história, seja nas redefinições do jornal a nível de conteúdos e formatos, seja na dimensão da sua equipa e no seu (baixo) orçamento. Fazendo uma síntese, em três anos, o novo J—A tornou-se numa plataforma online e num conjunto de iniciativas e publicações, que posteriormente regressou ao formato de revista em papel distribuída gratuitamente por correio, primeiro com números duplos (compilando uma selecção de conteúdos digitais em papel), agora em números de revista temática.

Nestes 37 anos de existência, o J—A evoluiu de instrumento de comunicação da Associação dos Arquitectos Portugueses, com carácter institucional, veiculando actividades associativas e breves notícias sobre a profissão, para, mais tarde, se transformar numa revista dedicada à prática da profissão, à teoria e à cultura arquitectónica. Daí a sua génese gratuita e a entrega postal aos membros efectivos. O percurso de passagem do formato de jornal àquele de revista deve-se ao progressivo desvinculamento que os projectos editoriais foram ganhando face à Ordem dos Arquitectos, assumindo autonomia editorial e direcção própria. 

Hoje a concepção e autonomia editorial do projecto mantêm-se, mas a direcção, produção e revisão são atributos da OA. Paralelamente, a OA edita o caderno OA, inserido na revista. Desde 2004, o projecto editorial do J—A e a respectiva equipa — direcção, redacção e design — passaram a ser seleccionados por concurso, facto que veio diversificar a abordagem de cada direcção, bem como dos conteúdos dos números, ampliando as possibilidades de participação de novas vozes e ideias — relembremos aqui o dossier Vírus, encartado na revista editada e dirigida por José Adrião e Ricardo Carvalho.

O último concurso, lançado no Verão de 2015, veio introduzir uma forte modificação no J—A propondo que se tornasse num portal digital, de âmbito internacional, integrando a habitual publicação periódica e dando-lhe uma nova dinâmica de actualização de conteúdos e de interacção com o público. O concurso foi denominado “Regresso a Casa” e estabeleceu que a própria direcção do J—A coubesse à presidência da OA, ficando a responsabilidade editorial do projecto a cargo da equipa seleccionada no concurso, e a definição dos temas gerais a cargo do Conselho Editorial do J—A. O concurso acrescia a programação de um ciclo de debates temáticos filmados e disponibilizados online, a dinamização de um fórum digital, uma edição especial impressa sobre o projecto Habitar Portugal 2012-14 (que substituiria o tradicional catálogo) bem como a publicação anual impressa “de prestígio” (no total de duas, 2016 e 2017) de uma selecção de conteúdos publicados online. Todo este vasto conjunto de componentes foi inscrito num orçamento anual (prevendo dois anos de projecto, 2016 e 2017) com um valor total próximo do que havia sido despendido em cada número impresso do J—A na sua anterior edição (2013-15). 

A lógica do portal mostrava-se uma experiência interessante, mais democratizada ao ser acessível a todos (arquitectos ou não), podendo assumir uma regularidade mais próxima do quotidiano, dando abertura às novas tecnologias e meios de comunicação, como por exemplo o vídeo e a dinamização de redes sociais, numa nova possibilidade de leitura de projectos e eventos, aproximando a relação com o público leitor e permitindo a sua participação. Mas a ambição desse desafio mostrou-se demasiada para um orçamento tão limitado, com falta de acompanhamento de equipas de informática e de vídeo (a implicitamente serem providenciadas pela OA pelo regulamento de concurso), mas que se mostraram inexistentes. Perante a inexistência de equipa “da casa” e de orçamento dedicado à encomenda de conteúdos audiovisuais, ficaram comprometidos aspectos fundamentais a uma plataforma online — actualização, interacção e audiovisuais.

Apesar das adversidades, a plataforma digital e os debates foram implementados, surgindo dificuldades na sua disseminação. A plataforma, que se desdobrava em suportes tablet e smartphone, verificou-se pouco adequada à leitura atenta de artigos extensos, dificultada pela obrigatoriedade de uma publicidade intrusiva, os membros mais interessados reclamavam receber o seu exemplar impresso, e o investimento na versão inglesa revelou ser desproporcionado, dado o baixo número de visitas. Importa considerar que a evolução das revistas de arquitectura extremou a diferença entre os portais de notícias, projectos e concursos online — ágeis, rápidos e intensos, alimentados por colaboradores de diversos países incidindo sobre temáticas internacionais, subsistindo sem remuneração dos autores e vivendo de publicidade; em tudo profundamente distintos daquela tradição da crítica impressa — inédita, lenta, aprofundada, desvinculada do mercado e por isso subsistindo com contornos mais tradicionais. O novo J—A online parecia então sofrer de uma crise de identidade, entre um e outro, formalmente plataforma digital mas, conceptualmente, lento, reflexivo, periódico e sem a capacidade económica, a imediatez, ou uma sincera vocação, para se tornar numa referência no mundo digital.Em função desde o início de 2017, a actual direcção da Ordem mostrou vontade de alterar a forma e o suporte do J—A, propondo-nos retomar a versão impressa e transformando o portal online num espelho dos conteúdos impressos, como já o tinha sido no passado. Houve período de reformulação de todo o projecto editorial, de design e também de publicidade. No processo de transição, houve um interregno para a adaptação do projecto, que levou ao prolongamento no tempo da edição das sete edições previstas em concurso. A revista modificou-se profundamente, abandonando a realização de vídeos e a vontade de actualização regular de conteúdos, bem como dos debates e da edição especial dedicada à selecção Habitar Portugal (que se autonomizou e saiu das competências do J—A). Na transformação, a revista regressou ao formato de periódico impresso, abdicando dos dois livros de compilação anual de artigos, sendo distribuída quadrimestralmente. Com a mudança, imprimiram-se dois números duplos com uma selecção dos conteúdos anteriormente publicados online, seguidos do número temático “Epicentros Pós-Industriais” (Setembro 2018), sucedido pela presente edição. 

Em 2019, o último número que cabe à presente equipa editar será dedicado ao Futuro na Arquitectura. O próprio futuro do J—A é impossível de prever, a sua publicação está inscrita no estatuto da OA, o que lhe garante a continuidade. Confiamos que o concurso seja o modelo mais adequado à selecção de equipas e projectos editoriais, como o processo mais democrático de auscultação de visões, perspectivas e de novos autores. Autonomia crítica, confiança nas competências e experiência profissional das equipas editoriais do J—A são essenciais — neste novo ano, após um conturbado triénio, assistiremos ao futuro que se segue. ◊