PROJECTO

Reconversão Urbana dos Estaleiros da Margueira, Almada, 1999

Por Contemporânea

Manuel Graça Dias + Egas José Vieira

 

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Esquisso © Manuel Graça Dias + Egas José Vieira
Planta
Maquete
Visualização 3D a partir do rio Tejo © Caixa D' Imagens
Visualização 3D a partir de Almada © Caixa D' Imagens
Visualização 3D a partir de Lisboa (Avenida D. Carlos I) © Caixa D' Imagens

 

 

Ensaio de ocupação urbana para os 49 hectares de aterro onde esteve instalado o Estaleiro da Lisnave, na Margueira, grande complexo de reparação de navios.

Aceitámos o terreno com as docas, com as “ruas” definidas pelas docas, com essa rede de impressões fracas provocada pelos alinhamentos do construído industrial. A Doca 13, enorme e dominante, sistema que contém o pórtico Lisnave, forneceu uma direcção perturbadora ao desenvolvimento ortogonal da hipótese de retícula. Seguiu-se depois o desenho maior da proposta, aquele que a justifica e ancora porque, articulando-a com a restante cidade, lhe retira o carácter de resto ou coisa à parte para onde a particularidade geográfica e a anterior ocupação remetiam.

Uma elipse — com o eixo maior assente no pontão da Doca 13 — desenha, sobre a água, um correr panorâmico que “abraça” o novo bairro e o “segura” para o lado de Almada, entrelaçando-se, a Norte e a Sul, no emaranhado da cidade, ganhando cota, voando lisa e lindamente sobre a água, sobre a superfície reflectora da água. Estabelecida a regra, avançámos sobre a “ilha” deixada dentro, engolfada pelo movimento de “caça” para perto da cidade que a excluía. Definimos as ruas com podiums de cinco metros de altura. Como se uma vasta massa baixa complanasse a Margueira e depois lhe fôssemos — cuidadosamente — “rasgar” as ruas, as avenidas, algumas praças. As bases albergam estacionamento, reservando, na periferia, comércio ao nível da rua. Pontes, depois, e percursos vivos e complexos sobre as grandes coberturas. Serão fabulosos terraços, entre jardins, caixas de vidro e vazados de edifícios, saídas de cinemas confundidas com mergulhos que nos levam à cota dos carros nas ruas mais abaixo, pejadas de bares e cafés, a alguma praça, de onde ainda se veja o rio. As docas seriam espelhos de água, entradas do rio dentro da cidade. A mais recuada, a Norte, um pequeníssimo Central Park, no meio de todo o conjunto. Apenas copas de árvores assomando, a vista das pontes que o cruzassem, a terra organicamente modelada, cheia da força que faz brotar a força das árvores, com os pássaros do fim da tarde contrastando com a memória do estaleiro que antes só conhecera as gaivotas em voo rasante picando o óleo. É sobre os podiums cheios de atracções, sobreposições e desejo, que se levantam as torres que espreitam Lisboa, que lhe olham a preguiça dos rebocos deitados ao sol, longos conventos marcando as colinas distantes. Agora, aqui, deste lado, os volumes são contrastados em vidro e ferro, altos, pontiagudos, enormes, furando o céu, à procura de compensar Lisboa de não ter já espaço perto e Almada de ver tão pouco o rio. Torres enormes ao Sol da manhã, torres brilhantes ao Sol da tarde, torres de perfis esbeltos, orientadas sobre aquele xadrez vago que antes fora suporte de armazéns e docas, torres violentas como os violentos e enormes navios que encheram a Margueira, soberbos volumes que entraram e saíram, habitando essa paisagem de Lisboa, habituando-se à paisagem de Lisboa. ◊