PROJECTO

Reabilitação de Edifício Habitacional
Rua Rodrigo da Fonseca nº45-49, Lisboa, Portugal

Appleton e Domingos

Após um primeiro projecto de Arquitectura e quando as obras para a sua reabilitação estavam quase terminadas, o edifício sofreu um incêndio que o destruiu quase na totalidade. Tratava-se de um bom prédio de rendimento eclético, lisboeta, do princípio do século XX, com grandes apartamentos com mais de 330m² e 4m de pé direito.

 

 

format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
Fachada original
Estrutura original
Obra de reabilitação pré-incêndio
Projecto de reabilitação pré-incêndio
Vista da cobertura pós-incêndio
Vista do interior pós-incêndio

 

 

Como era vulgar neste tipo de construção, percebia-se um grande investimento no desenho da fachada original o único elemento com desenho erudito, certamente de arquitecto – enriquecida com expressivas cantarias, guardas e portões metálicos “arte nova”. O interior original era de estrutura de madeira com um programa decorativo típico deste período em Lisboa: soalhos de pinho, estuques pintados em paredes e tectos, com elementos decorativos de estuque moldado e revestimento de azulejo nas paredes da escada.

O incêndio destruiu praticamente tudo, exceto as fachadas principal e tardoz e o piso térreo, que já se encontrava reforçado com uma espessa laje de betão armado que preveniu a passagem do fogo entre os pisos superiores e o estacionamento. Também o pavimento de pedra da entrada principal do edifício, onde outrora existiu uma escada dupla simétrica, sobreviveu ao sinistro. A estrutura metálica das varandas e as antigas portas e portadas de madeira também foram preservadas uma vez que se encontravam armazenadas fora do edifício.

 

 

 

 

O novo projecto foi obrigatoriamente desenvolvido de forma muito pragmática, reutilizando e valorizando as preexistências e os elementos já executados do projecto anterior, construindo novos elementos com os materiais mais correntes e económicos disponíveis no mercado. Procurou-se, ainda assim, preservar o carácter burguês e luxuoso do edifício de habitação, actualizando-o de forma contemporânea através do uso sensível da escala, desenho e materialidade.

 

 

 

 

As principais pre-existências relacionam profundamente o edifício existente com a nova intervenção. Estes elementos foram valorizados e tomam lugar de destaque no novo edifício. A pegada “estrutural” que resulta da manutenção da fachada principal e reforço estrutural já efectuado ao nível do piso térreo é determinante na compartimentação e na escala dos espaços interiores. A fachada principal foi cuidadosamente recuperada e a escolha das novas caixilharias, ora em madeira ora em aço perfilado, procurou preservar o desenho do conjunto. A utilização de portas existentes como apainelado no átrio de entrada e a recuperação do pavimento em pedra aí existente permitem que se perceba, desde logo, a presença de uma memória do edifício existente.

Tal como no edifício original, o novo projecto prevê um apartamento por piso, reservando o piso térreo para estacionamento automóvel. Os pisos de habitação têm plantas semelhantes, excepto o último piso que corresponde à ocupação do sótão, com vãos exteriores diferentes e uma espacialidade um pouco mais contemporânea. O primeiro e segundo pisos desfrutam de um terraço ou jardim no tardoz, enquanto os restantes incorporam uma grande varanda cada.

 

 

format=jpg
format=jpg

 

 

A utilização do betão armado como sistema construtivo estrutural mais competitivo nos dias de hoje foi encarada como uma oportunidade para dele retirar uma qualidade singular que contribuiu para a criação de um carácter forte, de acordo com o edifício existente. 

Foi utilizado betão “à vista” nos espaços mais nobres: nos tectos das salas com a definição de uma estereotomia em réguas de pinho que se relaciona directamente com a estereotomia dos pavimentos de madeira; nos tectos das varandas e átrio principal, com uma estereotomia mais simples; nas paredes da escada do edifício com um acabamento bujardado que lhe imprime um carácter têxtil e natural.

 

 

format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg

 

 

As paredes no centro dos apartamentos são revestidas com tricapa de madeira com uma velatura branca, que preserva a textura da superfície de madeira. A criação de portas de correr a toda a altura permitem articular os espaços de trabalhar, estar, cozinhar e jantar.

Para o pavimento das grandes varandas foram desenhados mosaicos hidráulicos em forma de losango, reinventando os pavimentos originais de mosaicos do edifício. Nas cozinhas e instalações sanitárias optou-se pela pedra Lioz, solução corrente em Lisboa.

As enormes janelas “arte nova” da fachada principal foram redesenhadas com uma caixilharia muito esbelta de aço pintado.

No primeiro projecto, a recuperação dos elementos decorativos existentes permitia a manutenção do ambiente interior do edifício. O novo projecto procurou a criação de ambientes com uma forte componente matéria através do betão “à vista”, apainelados tricapa, velaturas, pedra, sem que isso se traduzisse numa vertente decorativa. ◊

 

 

format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
format=jpg
Localização
Piso térreo e piso 2 com jardim
Piso-tipo e sótão
Alçado sobre a rua
Corte longitudinal
Piso-tipo do edifício existente
Piso-tipo do projecto pré-incêndio
Piso-tipo do projecto pós-incêndio

 

 


 

 

Arquitetura
Appleton e Domingos, Arquitectos
João Appleton, Isabel Domingos
www.appletondomingos.pt
Colaboração
Luís Rasteiro, Jorge Silva

Fundações e estrutura
A2P Consult, Estudos e Projectos Lda.
Paisagismo
Nélia Martins e João Junqueira

Instalações especiais
Termifrio
Segurança contra incêndios em edifícios
ETU
Construtor
Construtora UDRA
Fiscalização
Outdoor
Data de projecto/obra
2014/2015-2016
Promotor/Cliente
Fundo de Investimento Imobiliário Fechado Imoimperial
Fotografia
FG+SG