NARRATIVA VISUAL

Vai mais um hotel?

Por Pedro Figueiredo

Arquitecto, The Worst Tours

Lá vai um, lá vão dois, lá vão tantos hotéis a voar, fundos bem fundos (públicos) da união europeia para quem os conseguir agarrar?

Desde quando passou a ser “normal” pagarmos hotéis com fundos europeus públicos?

Não há diferença entre infraestrutura pública (por exemplo, o metro!) e um hotel privado? qual é o critério e qual o incentivo? será o “incentivo ao turismo”? o incentivo ao emprego”? e que tipo de emprego? será que estamos a co-financiar uma bolha imobiliária especulativa, que em breve nos explodirá nas mãos? …diz que acontece amiúde às bolhas: rebentar.

 

 

 

 

Nada é inevitável, tudo é debatível apesar do silêncio in the air ancorado no orgulho auto-eleito online best destination, enquanto deixamos construir uma best gentrification:

É boa aplicação de fundos públicos ajudar a pôr-nos fora da cidade?

dear, what is the color of money?” – só as fachadas não se abatem, camiões de não-carunchosas madeiras estruturais saem rua fora enquanto entram os fundos igualmente estruturais, bolso dentro do privado investidor.

 

 

 

 

Hotel Congregados – 46% União Europeia

Hotel “A Brasileira” – 37% UE

Hotel “Eurostars Heroísmo” – 57% UE

Hotel “NH Batalha” – 31% UE

Hotel Monumental Aliados – 39% EU: 4.305.135 euros e 67 cêntimos de financiamento comunitário anuncia o cartaz à entrada da obra, num total de cerca de 11 milhões de euros.

 

 

A União Europeia co-financia-nos os hotéis, patrocinando a turistificação – lógica da batata – e porque não cafés ou restaurantes, que também são hotelaria?

A falta que faz haver políticas públicas e de habitação em contra ciclo:

— Programas de habitação a custos ou renda controlada – eventualmente em parceria público-privada – para reabilitação “social” e habitacional no centro da cidade e como contra-resposta à hotelização e têZérização compulsiva do centro, por exemplo.

 

 

 

 

Em fevereiro de 2017 a CMP teve 1750 interessados no concurso para o arrendamento de 28 habitações a renda controlada no morro da Sé – só na zona da Rua das Flores nos últimos anos abriram cerca de 100 unidades de apartamentos turísticos! O relatório das Nações Unidas sobre as condições de acesso à habitação – Dezembro de 2016 – coloca Portugal em 22º lugar nos 28 países da UE. Que ninguém se queixe de falta de procura para habitação, há é falta de política, excesso de mercado descontrolado.

 

 

 

 

— Realocação destes fundos públicos para políticas de ataque à “monocultura urbana”: financiamento de aquisição e reabilitação das “ilhas” pelos seus habitantes, financiamento de cooperativas de produção em solo urbano.

 

— Alterações ao PDM no que toca aos coeficientes de ocupação do solo para diminuir os programas hoteleiros; distinguir na lei habitação “residencial” de “habitação “turística” para clarificação da natureza dos investimentos; alteração do Dec./lei n.º53/14 para a obrigatoriedade de vistoria estrutural prévia à reabilitação dos edifícios.

 

— E à falta de vontade em medir qual seja a “capacidade de carga” turística da cidade responder com “obviamente ser a sua capacidade actual, nem mais”, não ampliando nunca o aeroporto por seu suposto “esgotamento”. ◊